O que todo investidor de longo prazo mais deseja é manter suas ações em carteira durante vários anos.
Porém, você já parou para pensar que mesmo esse tipo de investidor pode, em algum momento, ter que vender suas ações?
Isso mesmo, ter que vender alguma ação também faz parte da vida do investidor de longo prazo. Não queremos dizer que é necessário ficar “girando a sua carteira”, pelo contrário.
No entanto, em alguns momentos, vender alguma ação será muito importante para a proteção do seu portfólio.
Hoje, falaremos sobre o caso da Cogna (COGN3), uma empresa que foi uma das maiores do mundo no setor de educação e testemunhou a transformação de seu lucro de R$ 1,8 bilhão em 2017 para um prejuízo de mais de R$ 5,8 bilhões em 2020.
Além disso, falaremos em detalhes sobre os motivos que nos fizeram recomendar venda das ações – o que nos levou a proteger os nossos clientes de uma grande queda.
QUANDO VENDER UMA AÇÃO? O CASO DE COGN3
Imagine você ter um negócio em um setor com um déficit gigantesco, dinheiro para fazer investimentos e um programa do governo do seu país fazendo propaganda para que todos consumam os seus produtos.
Ah, mais um detalhe: os seus clientes podem comprar seus produtos com subsídio desse mesmo governo e efetuar esse pagamento ”a perder de vista”.
Negócio fantástico esse acima, não?
Pois é exatamente isso que as empresas de educação tinham: um mercado gigantesco para explorar, dinheiro de IPOs e financiamentos para crescer e o governo federal, através do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, o FIES, fazendo ”propaganda” para as empresas e subsidiando o setor.
ESSE NEGÓCIO TEM COMO DAR ERRADO?
Claro que não!
Durante mais de uma década, as empresas do setor ganharam muito dinheiro e cresceram demais. A Cogna (que ainda era Kroton) surfou toda essa grande tendência de alta. O mercado estava ”bombando”, as companhias educacionais crescendo muito, fazendo pesados investimentos, fusões e aquisições.
Afinal, com o FIES, quanto mais alunos elas tivessem, mais dinheiro elas ganhavam.
Em julho de 2014, a Kroton fez um movimento que fazia muito sentido, anunciando a fusão com a sua maior rival, a Anhanguera Educacional.
Agora, a Kroton era a maior empresa de ensino superior do mundo por capitalização de mercado, muito à frente de qualquer outra.
Entre 2009 e 2017, a empresa viu sua receita disparar de R$ 341 milhões para quase R$ 6 bilhões.
Já, na última linha, o prejuízo de R$ 6 milhões de 2009, virou um lucro de quase R$ 2 bilhões em 2017.
Com esse crescimento, margens gordas e muito lucro, as ações só poderiam ter uma tendência: para cima. Tanto é verdade que, entre 2008 e 2017, as ações COGN3 subiram mais de 2.300%, além de terem distribuído uma enormidade em dividendos.
A COGN3 EM NOSSAS VIDAS
Em 2017, com a entrada de um novo analista, colocamos algumas empresas novas nas nossas recomendações de longo prazo.
Como ele conhecia muito o mercado educacional e já acompanhava a ainda Kroton há muito tempo, as ações da empresa viraram, naturalmente, recomendação de compra da Capitalizo.
”Enquanto o FIES existir, as empresas de educação serão rentáveis’‘ era um trecho que sempre aparecia em nossos relatórios ou vídeos quando falávamos do setor.
O “INÍCIO” DO FIM
Ainda não sabíamos, mas quando incluímos as ações da Cogna em nossas recomendações, o negócio estava fadado a dar errado.
O grande ponto de interrogação do FIES, que era a base de sustentação da empresa, era o tamanho real da inadimplência do programa. Por se tratar de um programa gigantesco (mais de 3 milhões de alunos) e politicamente popular, a quantidade de informações negativas a respeito do FIES era muito pequena.
A partir de 2016, com a mudança de governo, a ”caixa-preta” do programa começou a ser aberta. Inicialmente, os números mostravam uma inadimplência um pouco acima do que o nosso analista previa, mas que não deveria comprometer o futuro do FIES e das empresas que dependiam dele.
Tanto é verdade que a recomendação de compra por parte da Capitalizo foi meses depois, em agosto de 2017.
Porém, a situação iria piorar muito nos trimestres seguintes, pois quanto mais dados do programa eram apresentados, menos podíamos afirmar se a inadimplência era um problema ou se já havia se estabilizado.
Depois de revisarmos toda a tese de investimentos e nos aprofundarmos ainda mais sobre o setor e a empresa, tivemos acesso a mais dados de inadimplência.
O que esses dados diziam era muito pior do que esperávamos. A questão não era se esse indicador seria um problema ou se já havia se estabilizado, mas sim que, com aqueles números apresentados, o próprio FIES estaria ameaçado.
A grande questão era: como ficariam a Cogna e outras empresas do setor caso o FIES fosse descontinuado? A resposta foi unânime entre os nossos analistas: não temos “nem ideia de como será o futuro da empresa”.
Dessa forma, no dia 31/08/2017, exatos 16 dias após a nossa recomendação de compra, fizemos outra recomendação, agora recomendando venda das ações. Considerando os preços de compra (15,53) e de venda (16,25), o lucro ficou em pouco mais de +4,6%.
Obviamente, nesses casos, é normal termos aquela sensação de ter errado ou de não ter conseguido ver o que poderia acontecer, antes mesmo de ter recomendado a compra. Porém, sabemos que errar faz parte.
O que não podemos fazer é insistir no erro. Se o cenário mudou em pouco tempo ou se ficamos sabendo de algum fato novo, não importa se a recomendação durou dias ou anos.
Só podemos ter algo em carteira, caso tenhamos o mínimo de previsibilidade – e isso era o que menos tínhamos em COGN3.
O QUE ACONTECEU APÓS A NOSSA RECOMENDAÇÃO DE VENDA?
Ainda demorou alguns meses, mas quando ficou claro que o FIES não existiria mais (não daquele tamanho e modelo), a situação para as empresas do setor ficou ainda pior.
Sem o apoio do programa, as empresas iriam competir no preço e possivelmente entrariam em outros mercados, como de educação básica, que tinha uma dinâmica bem diferente da educação superior, amparada pelo FIES.
No caso da Cogna, a tombo foi muito maior. A empresa ainda fez a compra de mais empresas e, mesmo assim, viu a receita começar a crescer muito pouco.
O endividamento explodiu e o lucro de quase R$ 2 bilhões (2017) “mingou” para pouco menos de R$ 300 milhões já em 2019.
Ainda em 2019, a empresa lançou um plano de reestruturação e mudou o nome de Kroton para Cogna. Apesar de interessante, a imprevisibilidade da Cogna era a mesma.
Depois de anos com o apoio do FIES, era muito complicado traçar estimativas positivas para o longo prazo.
Se a situação era complicada para o setor, no caso da nossa antiga recomendação era ainda pior.
Quanto ao FIES, o que era motivo de alegria e possibilidade de desenvolvimento pessoal, virou um verdadeiro pesadelo, com uma inadimplência recorde.
Somente em agosto de 2021, mais de 1 milhão de pessoas estavam com mais de 90 dias de atraso no pagamento das parcelas do financiamento estudantil. Somadas, essas parcelas em atraso eram de mais de R$7 bilhões.
O “FIM DEPOIS DO FIM”
Se não bastasse tudo que foi relatado acima, em 2020, tivemos o surgimento da pandemia da Covid-19, fechando faculdades e escolas.
O que já era ruim, ficou ainda pior: queda em matrículas e na receita, aumento da inadimplência, do endividamento e grandes prejuízos para as empresas do setor, incluindo a Cogna (COGN3), mais afetada.
Foi o verdadeiro ”fim depois do fim”.
Aquela sensação de termos errado, virou um grande alívio, pois considerando o nosso preço de venda (16,25) e o atual (3,26), protegemos os nossos clientes de uma queda de -80%.
Saber quando comprar uma ação é importante, mas é fundamental também saber quando vender.
É justamente isso que buscamos fazer por aqui!
COMO SABER QUAIS AÇÕES COMPRAR E VENDER NO LONGO PRAZO?
Atualmente, temos 5 carteiras de ações com foco no Longo Prazo, utilizando a estratégia fundamentalista Buy & Hold: Carteira Dividendos +, Micro e Small Caps, Top Crescimento, Internacional (criada em 2020) e Tiago Prux.
Em todas elas, o nosso investidor é avisado de qualquer passo que precisa ser feito e os momentos de compra e de venda de das ações.
Abaixo, apresentamos o desempenho das três mais procuradas pelos nossos clientes: Tiago Prux, Dividendos+ e Micro e Small Caps.